Teatralidades #3

Já gastámos as plavras pela rua, meu amor
e o que ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos
gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Meto as mãos nas alguiberas
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava, porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
...
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.

(adaptação de Adeus, de Eugénio de Andrade)

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